O que o documentário Ilha das Flores tem para nos ensinar

Ilha das Flores é um documentário de curta metragem produzido em 1989, dirigido por Jorge Furtado. O documentário repercutiu bastante desde seu lançamento, com uma ácida crítica ao capitalismo, à sociedade de consumo e à desigualdade social gerada por esse sistema hegemônico no mundo até hoje.

Separamos alguns pontos abordados no curta metragem e que se mostram extremamente atuais, mais de 30 anos após o ano de estreia. E caso você ainda não tenha assistido o curta, deixamos ele disponível para que você assista no final desse post.

Desigualdade Social

O documentário narra a trajetória de um tomate, desde o seu plantio até o seu descarte na Ilha das Flores, local que abrigava um lixão da cidade de Porto Alegre, onde cerca de 500 toneladas de lixo por dia eram despejadas na época.

Após ser descartado por uma família, um tomate aparentemente sem uso ia parar na Ilha das Flores, onde um criador de porcos selecionava parte dos resíduos orgânicos que chegavam lá e os destinava para a alimentação de seus animais.

Inacreditavelmente uma fração desses resíduos orgânicos, considerada imprópria para alimentar os porcos, ia para um local onde pessoas faziam fila e, em pequenos grupos, tinham o direito de passar 5 minutos procurando por alimentos para seu consumo.

Ou seja, o que não servia para os porcos era oferecido para que essas pessoas pudessem se alimentar.

Fome

“O que coloca os seres humanos depois dos porcos na prioridade de escolha de alimentos é o fato de não terem dinheiro nem dono”, esta é uma das tantas frases chocantes narradas ao longo do documentário.

Triste pensar que ainda hoje a fome é uma pauta tão presente em nossa realidade, tendo a pandemia do corona vírus e a guerra na Ucrânia piorando ainda mais a situação. A fome no Brasil vem atingindo patamares históricos, hoje (2022) são 15,4 milhões de pessoas em situação de insegurança alimentar grave, 7,3% da população do país.

Descarte inapropriado de lixo, ou melhor, Resíduos Sólidos

Outro ponto bem sensível é a questão do descarte inadequado dos resíduos sólidos no Brasil. Hoje ainda existem cerca de 3000 lixões no Brasil, segundo dados da ABRELPE (Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Publica) e muito provavelmente a realidade da Ilha das Flores se repete em muitos deles.

Para quem quiser se aprofundar um pouco mais nessa questão do descarte de resíduos,  acesse nosso artigo sobre aterros e lixões.

Como está a Ilha das Flores hoje em dia?

A Ilha das Flores pertence ao bairro Arquipélago, situado à margem esquerda do rio Guaíba, em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. As imagens na verdade são feitas numa ilha vizinha, a Ilha dos Marinheiros, tendo o autor optado pelo nome Ilha das Flores pelo tom de ironia que o nome desse local traria.

Em 2019, após 30 anos de lançamento do curta, a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema) elegeu o Ilha das Flores como melhor curta-metragem brasileiro da história. Isso instigou repórteres a irem até o local e saberem como as coisas estavam por lá.

Hoje nas ilhas do bairro Arquipélago não há mais lixões. Todo o lixo orgânico da capital gaúcha é mandado para Minas do Leão, um aterro sanitário. E a central de recicláveis da Ilha dos Marinheiros está desativada, porém, como uma das únicas fontes de renda das famílias que lá vivem ainda é esse, os resíduos são deixados em frente as casas, dando continuidade a imagens que retratam tamanha desigualdade social que ainda vivemos.

Como podemos fazer a diferença em todas essas questões levantadas?

Se você, assim como nós, fica indignado com tudo o que foi trazido aqui, entenda que esse é um dos motivos que nos faz investir tanto na ideia da Compostagem Comunitária. Leia nosso texto sobre e entenda como essa atividade pode auxiliar na mudança de muitas das problemáticas citadas no documentário.

E para você que ainda não assistiu Ilha das Flores, veja abaixo:

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